Madrugadas mortas onde só eu vivo...Assim têm sido os dias que não vivo e as horas de sol que não vejo...Longe do ninho que me aquece, vivo agora num suspiro de tanto por dizer mas sem ninguém para ouvir. Quando o dia dia recomeça e a noite ainda me agarra nos seus braços encosto a cabeça na almofada e tento ir embora, fugir para longe, destacar-me desta realidade que já não sei se é minha ou se sou eu dela.
Vim com propósitos fixos, com metas para alcançar, com matérias para estudar, com vontade de terminar o mais depressa possível esta missão que já nem sei se vou conseguir cumprir. É chegado o final do segundo ano e as cadeiras insistem em não abandonar o ring e eu continuo o combate contra tudo isto. Nem praia nem campo...apenas paredes brancas que já odeio e repudio! De costas para esta paisagem linda que me oferecem todos os dias, tento sair das tardes frias de palavras, gélidas de emoções e congeladas de sentimentos com um cigarro de esperança ou um copo de sumo cheio de azedumes que chegam com a última gota.
Já nem sei se é de mim mas o Algarve fica tão longe quando a casa é a estação obrigatória durante estes meses de Verão. Quando a serra era o horizonte não havia sequer esperanças de Férias mas quando as Férias são já aqui ao lado e as paredes brancas sujam a paisagem, a serra torna-se tão querida.
É a quinta vez consecutiva que vejo os primeiros tons de sol encostados aquele telhado...será que hoje será diferente? O que será que trás este sol que já se assume? Mais perguntas que não querem resposta. Mais certezas que não se assumem. Mais quereres que parecem perguntas. Hoje vou fazer diferente. Hoje vou reconstruir um bocado de mim e montar uma esperança. Vou brincar com ela e logo, quando o sol for outra vez, vou abriga-la para que nunca mais se parta.
Porque quando já nada é intacto há que aproveitar cada pedaço de chão para contruir um novo rumo...mais verdadeiro, mais meu!
1 comentário:
Se pensares bem, estas paredes que agora se parecem insuportáveis e até mesmo claustrofóbicas, vão (e são!) o teu ninho do Algarve. Quer queiras quer não elas vão estar sempre aí, independentemente da estação do ano, do dia ou da hora. A nossa casinha é sempre a nossa casinha, mas podemos construir sempre um segundo lar, um refúgio e foi o que tu fizeste desde o momento em que cá chegaste. Não te parece o melhor agora? Pois acredito que não, o cansaço, a saturação e as saudades do que está longe não te permitem ver o quadro com todas as cores. De qualquer forma pensa: aguenta este canto só mais um tempinho, troca-lhe as voltas de vez em quando e mais tarde verás que tudo valeu a pena. As tristezas, incertezas, angústias, desilusões, contentamentos, explosões de felicidade. E sentirás saudade, acima de tudo saudade. De tudo o que essas paredes, agora claustrofóbicas, viverão contigo.
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